sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014


Há perguntas que têm que ser feitas

Quem quer que sejas, onde quer que estejas
Diz-me se, é este o mundo que desejas?
Homens rezam acreditam, morrem por ti
Dizem que tás em todo o lado, mas não sei se já te vi
Vejo tanta dor no mundo, pergunto-me se existes
Onde está a tua alegria, neste mundo de homens tristes?
Se ensinas o bem, porque é que somos maus por natureza?
Se tudo podes, porque é que não pões comida à minha mesa?
Perdoa-me as dúvidas, tenho que perguntar
Sou o teu filho e tu me amas, porque é que me fazes chorar?
Ninguém tem a verdade, o que sabemos são palpites
Sangue é derramado, em teu nome é porque o permites
Se me deste olhos, porque é que não vejo nada?
Se sou feito à tua imagem, porque é que eu durmo na calçada?
Será que pedir a paz entre os Homens, é pedir demais?
Porque é que sou discriminado, se somos todos iguais?
Porquê?

REFRÃO:
Porque é que os Homens se comportam como irracionais?
Porque é que guerras doenças matam cada vez mais?
Porque é que a paz não passa de ilusão?
Como pode o Homem amar com armas na mão?
Porquê?
Peço perdão pelas perguntas que tem que ser feitas
E se eu escolher o meu caminho será que me aceitas?
Quem és tu? Onde estás? O que fazes? Não sei
Eu acredito é na paz e no amor

Por favor, não deixes o mal entrar no meu coração
Dou por mim a chamar o teu nome, em horas de aflição
Mas, tens tantos nomes, és Rei de tantos tronos
Se o Homem nasce livre, porque é que alguns são donos?
Quem inventou o ódio? Quem foi que inventou a guerra?
Às vezes acho que o inferno, é um lugar aqui na Terra
Não deixes crianças, sofrer pelos adultos
Os pecados são os mesmos, o que muda são os cultos
Dizem que ensinaste o Homem a fazer o bem
Mas no livro que escreveste, cada um só lê o que lhe convém
Passo noites em branco, quase sem dormir a pensar
Tantas perguntas, tanta coisa por explicar
Interrogo-me, penso no destino que me deste
E tudo o que me acontece, é porque Tu assim quiseste
Porque é que me pões de luto e me levas quem eu amo?
Será que é essa a justiça pela qual eu tanto reclamo?
Será que só percebemos quando chegar a nossa altura?
Se calhar desse lado está a felicidade mais pura
Mas se nada fiz, nada tenho a temer
A morte não me assusta, o que assusta é a forma de morrer

REFRÃO:
Porque é que os Homens se comportam como irracionais?
Porque é que guerras doenças matam cada vez mais?
Porque é que a paz não passa de ilusão?
Como pode o Homem amar com armas na mão?
Porquê?
Peço perdão pelas perguntas que tem que ser feitas
E se eu escolher o meu caminho será que me aceitas?
Quem és tu? Onde estás? O que fazes? Não sei
Eu acredito é na paz e no amor

Quanto mais tento aprender, mais sei que nada sei
Quanto mais chamo o teu nome, menos entendo o que chamei
Por mais respostas que tenha, a dúvida é maior
Quero aprender com os meus defeitos, acordar um homem melhor
Respeito o meu próximo, para que ele me respeite a mim
Penso na origem de tudo, e penso como será o fim
A morte é o fim ou é um novo amanhecer?
Se é começar outra vez, então já posso morrer


MADREDEUS:
Ao largo, ainda arde
A barca, da fantasia
O meu sonho acaba tarde
Acordar é que eu não queria



(Muito rezado, ultimamente...)

O truque é estar do outro lado...



Às vezes, é necessário este pequeno truque em muitas coisas na vida.

É preciso, sabermos colocar-nos no nosso lugar, mas também sair de nós mesmos e colocarmos no lugar do outro e tentar entender. E é, frequentemente, preciso estarmos diante do Outro e rezar-lhe tudo isto. Rezar aquilo que são as nossas fraquezas e, ainda, a caridade...

Diogo Cão, 4


Passados largos meses, algumas actualizações...

Actualização de habituar-me a mim. A ver-me. A espreitar-me. A silenciar-me. E a ser eu.

Ultimamente, têm acontecido coisas complexas e momentos de tensão interior, verdadeiramente, cáusticos. No entanto, nos momentos de ser eu, de ir espreitando, de me ir interpretando no silêncio e "sozinha", tem sido momento também de perceber e dar espaço ao cuidado e ao amor.
Quero cuidar onde as coisas acontecem e fazer disso novo recomeço. 

Ajuda-me, Senhor, a estar atenta. A olhar. A olhar com verdade o que me rodeia. Ensina a ver com maior clareza que o Amor pode ser mais possível. E, ajuda-me a levar a alegria aos lugares mais improváveis do meu dia.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Quem morre?

"Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
 Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante. Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade."

Pablo Neruda

quarta-feira, 19 de junho de 2013

.Prefácio [de muitas coisas]

[…]
“É triste ir pela vida como quem
regressa e entrar humildemente por engano pela morte dentro
É triste no outono concluir
que era o verão a única estação
Passou o solitário vento e não o conhecemos
e não soubemos ir até ao fundo da verdura
como rios que sabem onde encontrar o mar
e com que pontes com que ruas com que gentes com que montes conviver
através de palavras de uma água para sempre dita
Mas o mais triste é recordar os gestos de amanhã
Triste é comprar castanhas depois da tourada
entre o fumo e o domingo na tarde de novembro
e ter como futuro o asfalto e muita gente
e atrás a vida sem nenhuma infância
revendo tudo isto algum tempo depois
A tarde morre pelos dias fora
É muito triste andar por entre Deus ausente”

[…]

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

E responderam-me "Pensava que o teu nome do meio era FÉ!"

Os últimos dias/semanas/meses não têm sido fáceis. Ao mesmo tempo não encontro a razão e o porque de sentir que não estão a ser fáceis. Não encontro o que está na origem, na raiz do problema... Pôs-se a questão "Será que há, realmente, problema?". E eu vou rever e vou rezar e vou tentar "descomplicar" e "desstressar" e não saio do mesmo sítio e chego às mesmas limitações, às mesmas paralisias e não confio e sinto isto tudo uma bola de neve que se arrasta.
E depois, em conversa com alguém que tentava incutir-me "calma" e "cabecinha fresca", digo que "stress" é o meu nome do meio. E levo uma grande chapada de luva branca que me deixa a sorrir e me deixa a pensar "Pensava que o teu nome do meio era !"
E é como esse meu amigo me dizia também: tanto Cristinho para aqui e para ali e, afinal, stresso com esta facilidade parva e, no meio de tudo, também é preciso rezar estes "amocks". E não é que não reze, mas é aqui que me vou apercebendo, realmente, das minhas limitações... Se é o meu nome do meio, como é possível "esquecer-me" d'Ele tantas vezes? Como é possível entristece-Lo tantas vezes? Como é possível "esquecer-me" de Lhe confiar a minha vida, o meu trabalho, as minhas angústias? Como é fácil, na minha "dureza", "esquecer" que é a que me tem levado a bom porto, que é na que encontro suporte, que é pela que a minha vida é sustentada...

Volto à questão inicial: Quando é que tudo começa? Onde é que se inicia o problema? Onde começam as dificuldades? Na falta de aceitação? Na falta de confiança? Na falta de mim em mim? Na falta de ?

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Jornadas da Litúrgia, Arte e Arquitectura





 “Para todos vós, agora, artistas, que sois prisioneiros da beleza e que trabalhais para ela: poetas e letrados, pintores, escultores, arquitectos, músicos, homens do teatro, cineastas . . . A todos vós, a Igreja do Concílio afirma pela nossa voz: se sois os amigos da autêntica arte, sois nossos amigos.
Desde há muito que a Igreja se aliou convosco. Vós tendes edificado e decorado os seus templos, celebrado os seus dogmas, enriquecido a sua Liturgia. Tendes ajudado a Igreja a traduzir a sua divina mensagem na linguagem das formas e das figuras, a tornar perceptível o mundo invisível.
Hoje como ontem, a Igreja tem necessidade de vós e volta-se para vós. E diz-vos pela nossa voz: não permitais que se rompa uma aliança entre todas fecunda. Não vos recuseis a colocar o vosso talento ao serviço da verdade divina. Não fecheis o vosso espírito ao sopro do Espírito Santo.
O mundo em que vivemos tem necessidade de beleza para não cair no desespero. A beleza, como a verdade, é a que traz alegria ao coração dos homens, é este fruto precioso que resiste ao passar do tempo, que une as gerações e as faz comungar na admiração. E isto por vossas mãos.
Que estas mãos sejam puras e desinteressadas. Lembrai-vos de que sois os guardiões da beleza no mundo: que isso baste para vos afastar dos gostos efémeros e sem valor autêntico, para vos libertar da procura de expressões estranhas ou indecorosas.
Sede sempre e em toda a parte dignos do vosso ideal, e sereis dignos da Igreja, que, pela nossa voz, vos dirige neste dia a sua mensagem de amizade, de salvação, de graça e de bênção.”
(mensagem do Papa Paulo VI, aos artistas, na conclusão do Concílio Vaticano II)

Neste ano, em que se assinalam os cinquenta anos do Concílio Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII, a Universidade Católica Portuguesa, de Lisboa, tomou a iniciativa de realizar, a 15 e 16 de Novembro, as Jornadas de Litúrgia, Arte e Arquitectura, que reuniu no mesmo auditório padres, cardeais, arquitectos, estudantes e outros, na tentativa de se fazer diálogo entre a litúrgia, a arquitectura e a arte em ambiente de Igreja.
 No Painel 1 destas Jornadas, propunha-se que, à luz do Concílio Vaticano II, se analisásse a litútgia no contexto conciliar, o espaço litúrgico enquanto identidade da Igreja e a litúrgia no plano pastoral, tendo como exemplo a comunidade da Serra do Pilar. Para debater estes temas estiveram presentes Frei Bento Domingues (op. Teólogo), o Padre João Norton de Matos (doutorando Centro Sèvres) e o Padre Arlindo Magalhães (Teólogo, UCP Porto). O Painel 2, confrontou a litúrgia com a arte, tendo como conferencistas o Curador Paulo Pires do Vale (UCP Lisboa), o Padre Joaquim Félix (Liturgista, UCP Braga) e, ainda, o Cardeal italiano Gianfranco Ravasi (Pontifício Conselho para a Cultura) que nos veio falar da retoma do diálogo entre a Igreja e a Arte. O Painel 3, apresentou-nos a arte no contexto arquitectónico pelos olhos do Arquitecto italiano Glauco Gresleri (Universidade de Pescara), do Arquitecto João Alves da Cunha (Doutorando FA-UTL) e do Arquitecto Bernardo Miranda (CIES-ISCTE, doutorando FA-UP). A fechar este ciclo de conferências, no Painel 4, debateu-se o futuro destes três grandes temas Litúrgia, Arte e Arquitectura, com conclusões do Padre Manuel Pereira da Silva (Liturgista. UCP Lisboa), do Historiador de Arte Marco Daniel Duarte (Museu do Santuário de Fátima) e do Arquitecto Diogo Pimentel (SNIP). Para terminar, uma nota breve do Cardeal Patriarca D. José Policarpo que nos falou acerca da actualidade do Concílio Vaticano II.
Ao longo dos dois dias foram debatidos pontos de grande relevância e, decerto, muito ficou por dizer. Penso que é muito importante que cada um “perca” um pouquinho do seu tempo a confrontar estes assuntos e que, realmente, cresça nesse confronto. Era esta a minha expectativa para estas Jornadas, “perder” tempo a debater três pontos da minha vida: a litúrgia, enquanto cristã e membro activo na minha comunidade, e a arte e a arquitectura, enquanto estudante destas áreas. Portanto, resumo estas Jornadas como um grande três em um.
Enquanto vivência de Igreja, há a reter o facto de que a Igreja celebra e vive a litúrgia e que é Cristo o centro da litúrgia e, em torno deste facto, gera-se o rosto da Igreja que se reconhece como povo de Deus, como nos diz o documento Lumen Gentium. Nesta questão do povo de Deus, entra a noção de Comunhão, sustento da Eucaristia, vista como espaço litúrgico. Então a própria litúrgia é espaço. Espaço de oração, espaço de relação. É, portanto, neste espaço de relação, que a assembleia se reúne. E, se no contexto de arte, vimos como é importante que o espectador participe na obra, se adentre nela e se sinta nela, então é isso que também é importante quando se fala de litúrgia. É importante que a assembleia participe, se adentre e se sinta nesse espaço litúrgico de encontro e de oração. Isso é-nos ilustrado na primeira imagem. É uma imagem muito corrente que descobri ser uma obra importante. Os espectadores foram remetidos para uma sala vazia com paredes brancas e foi-lhes pedido que escrevessem na parede, à sua altura, o seu nome. A este tipo de obra, chamamos Happening. É um tipo de obra que incorpora espontaniedade e improvisação, que nunca se repete da mesma maneira. É assim, que é importante que se viva a litúrgia de uma forma espontânea, que vivamos nela e que ela não se repita em nós da mesma maneira, mas sempre de forma mais apaixonada porque a litúrgia é o visível do invisível, é a Igreja e a Igreja é a preseça da acção de Cristo no mundo de hoje. E, tal como é importante que se olhe a arte com contemporaneidade, ou seja, dar vida à própria arte e ter o desejo que a arte faça parte da vida, também é importante que se dê desta contemporaneidade à litúrgia e à vivência em Igreja.

No concreto da arquitectura, importa que o espaço interior de uma igreja seja espaço de litúrgia nova, não adianta que o espaço exterior seja moderno se o interior continuar igual. E isto, é assim também pessoalmente, que adianta que o nosso exterior seja “moderno”, que adianta que mostremos algo que depois o nosso interior não é? É como nos mostra o cartoon. Tentamos perceber o que uma obra representa, mas nunca nos questionamos acerca do que é que nós próprios representamos.
Quando é necessário repensar um lugar para a litúrgia, não significa que esse repensar, esse requalificar o espaço lhe mude o caracter. Há uma dimensão construtiva na Igreja, que não são a pedra nem o tijolo, mas sim as pessoas! Quando um Homem põe um chapéu, o chapéu é a cobertura e o Homem é a própria casa. Quando há um circulo de Homens debaixo de um chapéu, cada Homem torna-se pilar. Além de Homens são cidade, são comunidade. É isso que é ser a Igreja. Para haver esta dimensão construtiva na Igreja, feita de pessoas, é necessário fazer aquilo que um dos arquitectos registou como “ressourcement”, uma refontalização, um regresso às fontes, à fonte que é Cristo que nunca parou de jorrar. Cada um, que vive em Igreja, não faz arquitectura para o outro. Enquanto Igreja, fazemos arquitectura para o nós, porque lembramos Cristo, que veio para servir e não para ser servido. É assim que é feita a experiência do povo de Deus. 


Tesouro


“Palha que o vento levou”, dizia o Salmo da manhã, porque necessito que o vento leve o que já não faz falta em mim. Leve o meu egoísmo, o meu orgulho, a minha falta de confiança, a insegurança, a cobardia. Para ficar sossegada e tranquila, capaz de confiar, capaz de que o “tudo” seja a medida da fé. Faz-me, Senhor, paciente e humilde e, nas vezes em que me sinto amada seja também capaz de me amar e aceitar como Tu me amas e aceitas, mesmo  no meu pouco eu. Faz-me observadora dos lugares e dos sinais do Teu amor,  da Tua verdade, da Tua beleza, da Tua vida, porque só em Ti cada noite se renova em bela manhã e ao sol sucede a lua. Porque só em Ti, o vazio de uma parede branca, a lembrar o sem resposta, ganha sentido, porque só o Teu regaço é colo de Pai e só o Teu olhar vê o meu invisível.
Ensina-me a procurar-Te bem, nos lugares onde Tu me falas, para que nesse Encontro eu possa encontrar-me, para que na Tua luz eu consiga ver luz e, nessa luz, ilumine cada novo passo.
Levanta-me como ao coxo, da minha miséria e do meu mendigar. Esvazia-me e enche-me, sê o meu tesouro.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Salmo 8

Ó SENHOR, nosso Deus,
como é admirável o teu nome em toda a terra!
Adorarei a tua majestade, mais alta que os céus.
Da boca das crianças e dos pequeninos
fizeste uma fortaleza contra os teus inimigos,
para fazer calar os adversários rebeldes.
Quando contemplo os céus, obra das tuas mãos,
a Lua e as estrelas que Tu criaste:
que é o homem para te lembrares dele,
o filho do homem para com ele te preocupares?
Quase fizeste dele um ser divino;
de glória e de honra o coroaste.
Deste-lhe domínio sobre as obras das tuas mãos,
tudo submeteste a seus pés:
rebanhos e gado, sem excepção,
e até mesmo os animais bravios;
as aves do céu e os peixes do mar,
tudo o que percorre os caminhos do oceano.
Ó SENHOR, nosso Deus,
como é admirável o teu nome em toda a terra!